21 maio 2013

DA NECESSIDADE DE SE APAIXONAR

"Preciso me apaixonar para sempre de novo, mesmo que seja só até a semana que vem".
Apaixonar-se não remete apenas ao acto de cair de amores por alguém. Quem se interessa vivamente por alguma coisa, um livro, por exemplo, está apaixonado; o indivíduo que se dedica ao trabalho com entusiasmo renovado está apaixonado; a camponesa que para a colheita de tulipas para assistir ao por do sol é apaixonada; o engenheiro que projecta prédios por quarenta anos aposenta-se e passa a pintar aguarelas, acaba de se apaixonar. Dessa forma, a palavra "paixão" tem significados mais abrangentes do que a atracção física e a afeição pelo outro. 
Apaixonar-se é sair do estado de torpor e inactividade ao qual a rotina, as decepções e as frustrações nos acorrentam; é abrir os olhos, aguçar os pensamentos, sair da sombra e brotar ao sol; é transformar-se, reconstruir-se, reescrever-se; é sentir fluir na alma e na carne a tal energia vital que Freud mencionava; é entregar-se a eros, à libido, ao amor. À paixão. Você e eu, todos nós, precisamos estar sempre apaixonados. Ocorre que o mercado de musas inspiradoras, trabalhos adoráveis e felicidades plenas é escasso e nada generoso. Então é preciso que escavemos do peito inspiração, admiração e, se não felicidade, ao menos ausência de sofrimento. 
A bem da verdade essa diferenciação entre amor e paixão, que tanto consome a moderna literatura e o tempo de estudiosos do ramo, sempre me causou um penoso estado de letargia. É tedioso categorizar sentimentos humanos e estúpido tentá-los diferenciar com base na intensidade e na duração dos mesmos. "Você a ama ou está apenas apaixonado por ela?"; "Severino foi o grande amor da minha vida, mas já tive muitas paixões"; "Se a paixão fosse realmente um bálsamo, o mundo não pareceria tão equivocado". É muita dúvida e complicação para algo tão natural e inerente ao ser humano. 



Roberta Rohen

Sem comentários:

Enviar um comentário