13 março 2012

amei em cheio/meio amei-o/meio não amei-o/arte que te abriga arte que te habita/arte que te falta arte que te imita/arte que te modela arte que te medita/arte que te mora arte que te mura/arte que te todo arte que te parte/arte que te torto ARTE QUE TE TURA/A tese segunda/Evapora em pergunta/Que entrega é tão louca/Que toda espera é pouca/Qual dos cinco mil sentidos/Está livre de mal-entendidos?/Atrasos do acaso/Cuidados/Que não quero mais/O que era para vir/Veio tarde/E essa tarde não sabe/Do que o acaso é capaz .../Hoje à noite/Lua alta/Faltei/E ninguém sentiu/A minha falta/DATILOGRAFANDO ESTE TEXTO/ler se lê nos dedos/não nos olhos/que os olhos são mais dados/a segredos/O amor, esse sufoco,/Agora há pouco era muito,/Agora, apenas um sopro/Ah, troço de louco,/Corações trocando rosas,/E socos./o mar o azul o sábado/liguei pro céu/mas dava sempre ocupado/sorte no jogo/azar no amor/de que me serve/sorte no amor/se o amor é um jogo/e o jogo não é o meu forte,/meu amor?/Tudo dito,/Nada feito,/Fito e deito/Viver denoite me fez senhor do fogo./A vocês, eu deixo o sono./O sonho, não!/Este eu mesmo carrego!/meio-dia três cores/eu disse vento/e caíram todas as flores/entre a dívida externa/e a dúvida interna/meu coração/comercial/alterna/moinho de versos/movido a vento/em noites de boémia/vai vir o dia/quando tudo que eu diga/seja poesia/noite sem sono/o cachorro late/um sonho sem dono/furo a parede branca/para que a lua entre/e confira com a que,/frouxa no meu sonho,/é maior do que a noite/primeiro frio do ano/fui feliz/se não me engano/não fosse isso/e era menos/não fosse tanto/e era quase/entre os garotos de bicicleta/o primeiro vaga-lume/de mil novecentos e oitenta e sete/a noite/me pinga uma estrela no olho/e passa/na torre da igreja/o passarinho pausa/pousa assim feito pousasse/o efeito na causa/um pouco de mão/em todo poema que ensina/quanto menor/mais do tamanho da china/entre/a água/e o chá/desaba/rocha/o maracujá/duas folhas na sandália/o outono/também quer andar/alvorada/alvoroço/troco minha alma/por um almoço/relógio parado/o ouvido ouve/o tic tac passado/cortinas de seda/o vento entra/sem pedir licença/a estrela cadente/me caiu ainda quente/na palma da mão/lua à vista/brilhavas assim/sobre Auschwitz?/lua de outono/por ti/quantos sonos/hoje ànoite/lua alta/faltei/e ninguém sentiu/minha falta/milagre de inverno/agora é ouro/a água das laranjas/coisas do vento/a rede balança/sem ninguém dentro/tarde de vento/até as árvores/querem vir para dentro/morreu o periquito/a gaiola vazia/esconde um grito/tudoclaro/ainda não era o dia/era apenas o raio/lua crescente/o escuro cresce/a estrela sente[...]

"[...]a poesia está dentro da vida, e não a vida dentro da poesia."


Paulo Leminsky

08 março 2012

Ruven Afanador




















Porque, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. O quanto uso das partes que brigam dentro de mim. Há muito, eu me confundo.
Porque metade não tem medo e levanta os braços, na descida da montanha-russa. Olhos abertos, enquanto outra acha melhor enfrentar a queda com as mãos na barra. Segurando forte. Espremendo os dois olhos, fechados, desde o começo do percurso.
Metade prefere brincar na beira da praia. No raso. Enquanto outra não vê problemas em pular dezenas de ondas e nadar onde a pequena bandeira vermelha, agitada pelo vento, avisa sobre o risco. Sobre o possível afogamento.
Porque, há muito, eu erro a receita do equilíbrio. Uso a parte que não deveria na hora em que não poderia. Me confundo com as metades que brigam dentro de mim.
Porque parte acelera na estrada, no momento da curva fechada. Pé direito até o fim, enquanto outra freia, bruscamente, ao ver a primeira placa. Seta torta, avisando sobre o perigo.
Metade não suporta a burrice, a pequenez, a lerdeza. Outra, sempre calada, tolera a banalidade. Engole a ignorância. Convive com a mediocridade.
Há muito, eu erro a mão. A dose. Me confundo com o que devo usar. Porque metade briga. Explode. Dedo apontado na cara, enquanto outra se recolhe, quieta, debaixo da cama. No quarto fechado. No tudo escuro.
Metade berra. Outra sussurra.
Tenho uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado.
Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade.
Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha.
Metade auto-suficiente.
Mas, há muito, eu erro a mão. A dose. Esqueço a receita do equilíbrio. Me perco.
Há dias em que uso a metade que não poderia. Dias em que me arrependo de ter usado a que não gostaria.
Porque elas brigam dentro de mim, as metades. Há algumas mais fortes. Outras ferozes. Há partes quase indomáveis.
Metades que me fazem sofrer nessa luta diária.
Não deixar que uma mate a outra.
 
 
 
Diário de um Borderliner, "Metades" de Eduardo Baszczyn

01 março 2012

Poisoned with love 











Que doença esta que é a cura, que doença rara.
Que doença esta, o amor.


Ricardo Karitsis