31 maio 2013

"Esta tarde deitei-me na linha do horizonte, abandonei-me naquela lonjura, embalada nas cálidas águas do mar, com o céu a cobrir de púrpura a minha pele. Talvez ali, naquela planície de calmaria, adormeça a minha dor, adormeça a minha dor...
(...) E tu não estás, apenas a tua ausência se confirma. Vou-me. Deixo-te contigo nessas tuas ilhas longínquas , que são o amor e o enorme vácuo dele, não quero mais que existas em mim."

Maria joão saraiva - A Dor que me Deixaste

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Diários

Debaixo dos cobertores, baixinho. a alma explode.

29 maio 2013

"Talvez pudesse ouvir passos junto à porta do quarto, passos leves que estacariam enquanto a minha vida, toda a vida, ficaria suspensa. Eu existiria então vagamente, alimentado pela violência de uma esperança, preso à obscura respiração dessa pessoa parada. Os comboios passariam sempre. E eu estaria a pensar nas palavras do amor, naquilo que se pode dizer quando a extrema solidão nos dá um talento inconcebível."

Helberto Helder, Os Passos em Volta

28 maio 2013

sad girls eat more

Havia uma mágoa tremenda naquela resposta. - Pintas? - Pintava. - e seguia assim a conversa, sem mais nenhum tipo de explicação. Um dia, lembro-me de escrever: "Desistir de um sonho de cada vez"- Foi isso que eu fiz? O pretérito imperfeito naquela resposta, congelava-me ainda mais do que um -Pintei. - E então? Não pintava na mesma. Faz um ano que aquela tela branca esta ali encostada, entre o armário e a parede, antes disso esteve em frente da cama, e antes disso, perto da minha mesa de trabalho... agora essa serve para pousar os livros, e a tela foi guardada entre o armário e a parede.

Parabéns

Toda a vida acreditei:
amor é os dois se duplicarem em UM.
Mas hoje sinto: ser um é ainda muito.
Demais.
Ambiciono, sim, ser o múltiplo de nada,
ninguém no plural.

-Ninguéns.-

Mia Couto

27 maio 2013

Sempre são excessivos os desejos de quem sonha 
a vida toda num momento. 

Graça Pires
só a morte me fará descansar desta loucura. e a bendita tarda.
Continuava sem saber o que dizer, escrevia duas linhas no ecra do telemovel e apagava-as de seguida. nenhuma palavra fazia sentido. nada daquilo fazia sentido. voltava a tentar. Ama-a dentro da pele. De dentro para fora. Ao contrario também. Ama-a com dor e raiva. Com saudade também. Ama-a destorcida e desesperamente. Ama-a sem fim. Nao. Volta a apagar tudo. Volta a tentar (...)

25 maio 2013

“Sometimes you climb out of bed in the morning and you think, I'm not going to make it, but you laugh inside — remembering all the times you've felt that way.” 
― Charles Bukowski

23 maio 2013

que se foda a esperança- no meio dos lençóis- que me agarra os movimentos. como lama suja. que se foda- na ponta dos dedos- para não voltar mais.

21 maio 2013

DA NECESSIDADE DE SE APAIXONAR

"Preciso me apaixonar para sempre de novo, mesmo que seja só até a semana que vem".
Apaixonar-se não remete apenas ao acto de cair de amores por alguém. Quem se interessa vivamente por alguma coisa, um livro, por exemplo, está apaixonado; o indivíduo que se dedica ao trabalho com entusiasmo renovado está apaixonado; a camponesa que para a colheita de tulipas para assistir ao por do sol é apaixonada; o engenheiro que projecta prédios por quarenta anos aposenta-se e passa a pintar aguarelas, acaba de se apaixonar. Dessa forma, a palavra "paixão" tem significados mais abrangentes do que a atracção física e a afeição pelo outro. 
Apaixonar-se é sair do estado de torpor e inactividade ao qual a rotina, as decepções e as frustrações nos acorrentam; é abrir os olhos, aguçar os pensamentos, sair da sombra e brotar ao sol; é transformar-se, reconstruir-se, reescrever-se; é sentir fluir na alma e na carne a tal energia vital que Freud mencionava; é entregar-se a eros, à libido, ao amor. À paixão. Você e eu, todos nós, precisamos estar sempre apaixonados. Ocorre que o mercado de musas inspiradoras, trabalhos adoráveis e felicidades plenas é escasso e nada generoso. Então é preciso que escavemos do peito inspiração, admiração e, se não felicidade, ao menos ausência de sofrimento. 
A bem da verdade essa diferenciação entre amor e paixão, que tanto consome a moderna literatura e o tempo de estudiosos do ramo, sempre me causou um penoso estado de letargia. É tedioso categorizar sentimentos humanos e estúpido tentá-los diferenciar com base na intensidade e na duração dos mesmos. "Você a ama ou está apenas apaixonado por ela?"; "Severino foi o grande amor da minha vida, mas já tive muitas paixões"; "Se a paixão fosse realmente um bálsamo, o mundo não pareceria tão equivocado". É muita dúvida e complicação para algo tão natural e inerente ao ser humano. 



Roberta Rohen

Diários

Ao abrir a gaveta depara-se com aquelas vidas ali fechadas. Pega num pedaço de papel c uma data e vira-o de frente. Aquela vida assalta-lhe a mente. Transporta-se ao sítio daquela fotografia. entra nela e vive aquele segundo uma segunda vez  na história mas ja n sente aqueles sapatos. Ja n andaria neles. N sentiria aquele sorriso.
Tantas vidas terminadas existem dentro daquela gaveta. É funda aquela gaveta. Fecha a gaveta. Amanha meto-lhe um cadeado.

19 maio 2013

não. ninguém saberá o que aconteceu. não ninguém saberá o que aconteceu. estou muito cansado. apetece-me dormir até morrer.

josé luís peixoto
“I said goodbye again
sucking up all that was left of her into the
little that was left of
me. I said, 'don't look for me again. fuck it.
we are all lost. goodbye, goodbye.” 


― Charles BukowskiThe People Look Like Flowers at Last
É o frio que nos tolhe ao domingo
no Inverno, quando mais rareia
a esperança. São certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugar 
e entram clandestinas no poema. 
São os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. É a espera 
e a demora. São as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. É a deriva
nocturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querer
a nossa vez.

Rui Pires Cabral

15 maio 2013

Deita-te a meu lado e conta-me uma história. (daquelas que têm finais felizes). Por favor. 
Aubrey Beardsley

diários

Só a triste certeza que o fim ira chegar. E quando o fim chegar será definitivo. E quando for definitivo a dor ira acabar. E quando a dor acabar, ainda bem. 

Dias fechados

Era-me sempre insuportável a sua partida.
E partia sempre.
E eu também.

14 maio 2013

Sinto-me terna... e sou cruel e melancólica!

Manuel Bandeira
Hans Bellmer


Debaixo de minha mesa
tem sempre um cão faminto
- que me alimenta a tristeza.
Debaixo de minha cama
tem sempre um fantasma vivo
- que perturba quem me ama.
Debaixo de minha pele
alguém me olha esquisito
-pensando que eu sou ele.
Debaixo de minha escrita
há sangue em lugar de tinta
- e alguém calado que grita.



Affonso Romano de Sant´Anna

07 maio 2013


He who binds to himself a joy
Does the winged life destroy;
But he who kisses the joy as it flies
Lives in eternity's sun rise. 

06 maio 2013


"I have loved to the point of madness; that which is called madness, that which to me, is the only sensible way to love."


Françoise Sagan

Eufemismo



"Já nem me lembro de quantas vezes voltei, para logo a seguir perceber que o meu lugar é partir."

05 maio 2013

por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu.Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar.

(...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa.Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa.

Só assim as tempestades fazem sentido.

Haruki Murakami, in " Kafka à Beira-Mar"