26 fevereiro 2013


...Nunca mais nos veremos?
Perguntei com a estupidez de quando não há perguntas a fazer.
Mas ao mesmo tempo, por baixo da minha insensatez, eu sentia o impulso absurdo de recuperar uma irrealidade perdida.
Nunca mais?...
E imprevistamente era aí que eu repousava, na tua face, na imagem final do meu desassossego.


Vergílio Ferreira

"I hope the exit is joyful — and I hope never to return."
Frida Kahlo, diary

23 fevereiro 2013

III

"Que tudo se foda
disse ela
e se fodeu toda"
Paulo Leminski 

pedaços de vozes, palavras não
grunhidos doces, incolores,
entranhas expostas, ruídos ocos, interruptos,
palavras não.
verdes cólera, abrasivos, mil sentidos,
palavras não.

21 fevereiro 2013

'Eu fiz isso' - diz a memória.
'Eu não posso ter feito isso' - diz o orgulho,

e permanece inflexível. Por fim a memória cede.

Friedrich Nietzsche – Além do Bem e do Mal 


São frios os batentes nas portas da manhã.

Maria do Rosário Pereira

20 fevereiro 2013

UM-DO-LI-TA


Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar ---
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...

Mário de Sá-Carneiro

19 fevereiro 2013

Nunca encontrei mulher mais cobarde do que eu. Recapitulo: mulheres que estão à espera como eu, não, nenhuma é assim tão cobarde.

Margueritte Duras | A Dor

14 fevereiro 2013

Há noites, em que a fealdade brota por todos os poros.

"A lua é como eu
fora-da-lei"
Fata Morgana

"Inevitável. A palavra certa é inevitável e lembro-me que foi essa a palavra que me ocorreu enquanto te abraçava e tu me abraçavas a mim. Era forçoso que assim fosse, não porque o quisesses tu ou o desejasse eu. Não porque não te amasse, ou porque não me quisesses tu. Simplesmente tinha de acabar, de uma forma ou de outra e, sendo assim, antes terminasse com um abraço. Mas tinha que acabar. São coisas que não se explicam, ou que, tendo explicação, não podem justificar-se recorrendo às escorreitas equações da lógica. Eu gosto-te, tu gostas-me; logo: separámo-nos. Tu vais e eu fico. Sofres tu e eu sofro também, porque tem mesmo que ser assim e não podia ser de outra maneira. E, se calhar, tinhas razão – o amor é mesmo para os parvos."

Manuel Jorge Marmelo in O Amor é para os parvos

12 fevereiro 2013


Há tempos convenientes e dias apropriados para se atearem fogos.


Sun Tzu

07 fevereiro 2013

“You love nobody. Is that not true?"
"Maybe," said Siddhartha wearily. "I am like you. You cannot love either, otherwise how could you practice love as an art? Perhaps people like us cannot love. Ordinary people can - that is their secret.” 


Hermann Hesse, in Siddhartha

05 fevereiro 2013


"Porque te escolho, neste sussurro sem retorno? Porque te quero no meu sono, se iluminaste sobretudo o que não fui? (...) Arrumar os amores, é a primeira regra da vida - saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha. (...) quando o amor nasce protegido da erosão do corpo, apenas perfume, contorno, coreografado em redor dos arco-íris dessa animada esperança a que chamamos alma - porque se esfuma? Como é que, de um dia para o outro, a tua voz deixou de me procurar, e eu deixei que a minha vida dispensasse o espelho da tua? (...) Em que dia me abandonaste? Em que palavra a minha voz se partiu? Que sombra se abriu por dentro dos teus olhos para despedaçar a minha imagem? Foi sem querer. Se deixei de te comover, de te divertir, de te inspirar, meu querido, foi sem querer. (...) Foi sem querer que se calhar não fui mesmo capaz..."

Inês Pedrosa | Fazes-me Falta


Skins, Cassie/Sid

04 fevereiro 2013


faca
repito faca
escrevo faca pelo corpo, desenho faca no peito da noite
desembaraço-me do sumo inoxidável doutra faca
faca
sorrio faca no escuro dum beco
Hoje não matarás



Al Berto