ainda tento sobreviver após tudo o que te escrevi, tudo o que me escreveste e disseste, e toda a vida miúda que fomos levando sem nunca pressentirmos a grande raiva que um dia talvez rebentasse; hoje, que o futuro já confirmou parcialmente as razões vulgares da minha partida, não vale a pena fingir, à merda a hipocrisia, não é da desmesura que volto, mas de uma terra pequena e de um mar dócil, da avareza e do medo, e volto como quem rasteja ou implora a leitura destas linhas, com um nome na boca, devagar, para a proximidade dos teus passos na cozinha, para confirmar as tuas palavras, à mesa do chá, sobre a minha pequena loucura. E sorrirei da minha pequena loucura. Entardece. Talvez esteja velho e a morte já não me faça companhia. Olha, não consigo escrever mais
Rui Gomes, O Mensageiro Diferido
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