- Não te sentes -10?
- Culpa de que?
| A Culpa | Texto e Direcção artística: Peter Pina
My fault, my failure, is not in the passions I have, but in my lack of control of them. Jack Kerouac
30 novembro 2012
28 novembro 2012
Fica ao menos o tempo de um cigarro, evita comigo que este tempo ande. Lá fora são as casas, vive gente à luz de um candeeiro, o som que nos chega apagado pela distância só denuncia o nosso silêncio interrompido. Ajuda-me, faremos o inventário das coisas menos úteis, mágoas na mágoa maior do tempo. Fica, não te aproximes, nenhum dia é menos sombrio, e quando anoitecer vamos ver as árvores cercando a casa.
Helder Moura Pereira
Helder Moura Pereira
27 novembro 2012
Tudo isto já beijou a dúvida na boca. Tudo isto já fingiu ter tempo para regressar. Tudo isto já supôs que agora seria diferente. Tudo isto já se empenhou em derrotar seis ou sete pessoas. Tudo isto já foi roupa a secar e a proximidade da noite. Tudo isto já encantou o estrangeiro. Tudo isto já se sentou à espera de ver. Tudo isto já rasgou o que não interessava e o que demais interessava. Tudo isto já despiu a vergonha. Tudo isto já foi de avião à sua lucidez futura. Tudo isto já enfrentou o desespero com duas moedas apenas. Tudo isto já se cansou de buscar modos de dizer. Tudo isto já foi mercúrio. Tudo isto já caiu a meio da noite sem que ninguém lhe tocasse. Tudo isto já deu o nome errado. Tudo isto já pediu para trocar tabaco. Tudo isto já se intrometeu. Tudo isto já foi demais para caber num corpo. Tudo isto já mordeu os lábios por lhe sobrar o desejo. Tudo isto já comentou as notícias terríveis a mais de cinco metros de distância. Tudo isto já presenciou a morte e o nascimento. Tudo isto já permitiu que entrasse. Tudo isto já sentiu os nervos como cordas. Tudo isto já deixou alguém adormecer. Tudo isto já inalou o ópio suave do reencontro. Tudo isto já percebeu que pode acontecer.
Vasco Gato
Vasco Gato
Claro que se tem medo que alguém nos entre pelos olhos. Mas podes arder. Para a tua temperatura sou mercúrio, linhas de mão, lábio e sopro. Atravesso-te porque me atravessas e onde somos corsários rendemo-nos ao encanto da devolução.Tu e eu à porta de um lugar que vai fechar, tudo numa árvore. Aqui onde os minutos são a rua em que nos sentamos toda a tarde à espera do silêncio, onde o teu corpo pesa a medida exacta do meu desejo. Sou um animal. Necessito diariamente da transfusão de uma enorme quantidade de calor. Tocas-me?
Vasco Gato
25 novembro 2012
24 novembro 2012
21 novembro 2012
18 novembro 2012
16 novembro 2012
16/11/1922 - 18/06/2010
Que monstruosas coisas é capaz de gerar o cérebro.
José Saramago, Ensaio Sobre a Lucidez
José Saramago, Ensaio Sobre a Lucidez
15 novembro 2012
14 novembro 2012
13 novembro 2012
08 novembro 2012
07 novembro 2012
É provável, sim, é provável que ainda a ame, que ame nela o que antes soube amar, a cabeleira escura, o ventre inquietante, o peito guardando a alegria de um coração solar. Os meus olhos profundos sempre a contemplaram visivelmente perturbados, até mesmo perdidos, quando ela caminhava abrindo rasgões no ar que se fechavam depois à sua passagem para cingir-lhe os braços, os seios e as ancas. A sua boca tremeu na minha com a sede da música e o seu contacto era o do musgo e o da cinza, e dessas cerejas maduras pelo lume de maio. Não sei se estou a endeusá-la ou se ela é uma deusa. Não sei mesmo se conseguirei dizer dela quanto gostaria. Ela está tão perto do meu corpo que a minha pele se acende, e tão longe dos meus olhos que só poderei lembrá-la. Fizémos muito amor e sempre muitas vezes, sem que entre nós esvoaçasse uma minima sombra. Quando ficávamos tristes, é que o espanto crescia até ao minuto primeiro da tristeza. É uma mulher maravilhosa, o seu nome que importa?, tão frágil como um menino inocente, assim desamparada, correndo para a loucura como antes correu para os meus braços. Nenhuma paixão poderia doer-me mais. Nenhuma ternura poderia mimar-me tanto. O meu poema é uma casa erguida com a sua beleza, onde ela entra e de onde sai e algumas vezes se demora. Poderei dizer que o meu coração é uma sala vazia? A sua recordação ainda me perturba e disso tenho consciência. Amo-a ainda, ou não a amo já, é impossível dizer. Mas é provável, sim, é provável que ainda a ame.
joaquim pessoa
06 novembro 2012
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