26 janeiro 2013

incessantemente isto.


Andavam pela casa amando-se no chão e contra as paredes. Respiravam exaustos como se tivessem nascido da terra, de dentro das sementeiras. Beijavam-se magoados até se magoarem mais. Um no outro eram prisioneiros um do outro e livres libertavam-se para a vida e para o amor. Vivendo a própria morte voltavam a andar pela casa amando-se no chão e contra as paredes. Então era música, como se cada corpo atravessasse o outro corpo e recebesse dele nova presença, agora serena e mais pobre mas avidamente rica por essa pobreza. A nudez corria-lhes pelas mãos e chegava aonde tudo é branco e firme. Aquele fogo de carne era a carne do amor, era o fogo do amor, o fogo de arder amando-se e por toda a casa, contra as paredes, no chão. Se mais não pressentissem bastaria aquela linguagem de falar tocando-se como dormem as aves. E os olhos gastos por amor de olhar, por olhar o amor. E no chão contra as paredes se amaram e pela casa andavam como se dentro das sementeiras respirassem. Prisioneiros libertados, um no outro eram livres e para a vida e para o amor se beijaram magoando-se mais, até ficarem magoados. E uma presença rica, agora nova e mais serena, avidamente recebeu a música que atravessou de um corpo a outro corpo chegando às mãos onde toda a nudez é branca e firme. Com uma carne de fogo, incarnando o amor, incarnando o fogo, contra o chão das paredes se amaram pressentindo que andando pela casa bastaria tocarem-se para ficarem dormindo como acordam as aves.


Joaquim Pessoa

25 janeiro 2013


Walt: I thought you were afraid of heights.
Travis: I'm not afraid of heights. I'm afraid of fallin'.

Paris, Texas (1984)

24 janeiro 2013

23 janeiro 2013

19 janeiro 2013

Não deixes portas entreabertas
Escancare-as.
Ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas.
Passam apenas semiventos.
Meias verdades
E muita insensatez.

-Flora Figueiredo

17 janeiro 2013

Marina Abramovic



















"Aproxima-se a hora da manchete. 
O PETRÓLEO ACABOU."

Carlos Drummond de Andrade

15 janeiro 2013

Killing me Soflty | Chen Kaige
























"Darling", - you said, - "We're a train wreck."
"Sweetheart", - I said, - "Train wrecks always make the front page."

14 janeiro 2013


Afirmas que brigamos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
E vais à cave içar o teu malão.
Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens
Não te devolvo – é minha – a tua pele.
Achei ali um sonho muito velho,
Não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
Que eu costumo vestir quando está frio?
E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?
A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?
Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?
De quem é esta briga? Não me lembro.

ROSA LOBATO DE FARIA
evil never dies

11 janeiro 2013






"I am a slave to my early grave
If I do not be brave, behave."
-My conscience hath a thousand several tongues,
And every tongue brings in a several tale,
And every tale condemns me for a villain.
        
King Richard III. Act v. Sc. 3.

WARNING!!!


10 janeiro 2013

The Dream | Picasso


não achas que chegou a hora? um dia ainda me dizes que já não há nada. mais nada no lado de fora do tempo. os anos, sabes? essa maré que nos salva e afoga, que ora nos traz, ora nos leva. o amor ou a dor. sempre o amor ou a dor ou um lugar, ou a hipótese de um lugar. qualquer ponto no universo onde a estrada acabe. onde o tempo acabe. onde toda a memória possa pairar como um céu sobre o passado. sobre todos os passados. tu sabes. um dia ainda me dizes tudo isto outra vez. não achas que chegou a hora?

Gil T. Sousa

08 janeiro 2013

estremeces-me brutalmente
- és o único diamante que riscou a minha pele

Frederico Mira George

04 janeiro 2013


És presença. E, mesmo quando és ausência, és muito mais do que saudade. És vontade de ver de novo, de ver mais, de ver mais perto, ver melhor. E tocar, de modo que, cada toque, eu tenha um pouco mais de ti em mim, para que não haja mais ausência.

Caio Fernando Abreu